Primeira parada - Larrieden


Após algumas horas de cavalgada pelos caminhos do sul, decidi começar uma conversa com Frieda pois o silêncio começou a me incomodar muito.

- Já que vamos viajar por longos dias que tentemos conversar não? - inciei a conversa.

- E o que tenho para conversar com o senhor? - respondeu me com leve sorriso no rosto.

- Frau, que fique bem claro que não a estou levando como minha prisioneira, sou seu companheiro de viagem. Ao contrário dos cavaleiros templários de outras ordens, não subestimamos o valor das mulheres e saiba que a respeito e a vejo como uma guerreira de igual valor ao meu.

- De acordo. - assentiu olhando o horizonte.

Antes de continuar ela me interrompeu:

- De acordo que não sou sua prisioneira, você que é meu prisioneiro.

- Como assim? - peerguntei surpreso.

- Segundo a sua reputação perante os soldados que estiveram lá na cidade, você não teve outra alternativa a não ser me me guiar nessa "viagem", portanto você está preso à essa missão e você depende do sucesso dela para que possa comandar novamente um grupo. - explicou me sem tirar o olhar do horizonte.

- Os soldados disseram isso?

- A última parte eu ouvi da sua conversa com seu mestre, a primeira parte eu ouvi dos soldados sim.

- És mais esperta do que imaginei...

- Ora, você mesmo não disse que sua ordem não subestimava as mulheres? - respondeu me finalmente olhando para mim.

Gargalhei alto.

- Saiba que és livre para voltar caso queira, porque vou até Veneza para pegar a minha herança, com você ou não.

- Não duvido disso.

Após mais algumas horas, e antes do anoitecer chegamos à nossa primeira parada, a estalagem Bärenfellmütze (pele de urso) próximo ao vilarejo de Larrieden.O vilarejo era bem pequeno, com cerca de oito casas sendo a estalagem a maior com seus dois andares. Não encontramos ninguém fora de casa e tão logo desmontamos surgiu na porta uma figura baixinha e bem ágil com um sujo avental.

- Sejam bem vindos! Deixem que eu amarre os cavalos dos senhores, por favor entrem, entrem... - falou de forma cortês o menino que saíra da estalagem.

- Muito gentil de sua parte. Onde está o dono da estalegem? - perguntei ao garoto.

- Herr Porzner está lá dentro e os aguarda. - respondeu-me apontando para a porta aberta da estalagem.

Após desmontarmos nos dirigimos até a entrada. Frieda tocou em meu ombro e disse em meus ouvidos:

- Éramos aguardados? Nossa viagem não era um segredo?

Antes de respondê-la surgiu em nossa frente um homem calvo e de média estatura e idade, pelas roupas era o chefe da estalagem.Ajoelhou-se diante de nós e beijou nossas mãos e nos puxou até o hall de entrada da estalagem.

- O que vocês desejam? - ingagou enquanto nos trazia para o hall.

- Só queremos um quarto para passarmos a noite. - respondi.

- Dois quartos. - corrigiu Frieda. 

- Sim, dois quartos, de preferência quartos vizinhos. - pedi ao senhor Porzner.

- Johann! Peçam que façam um banquete para nossas ilustres visitas! - ordenou o chefe Porzner ao garoto que acabara de entrar no hall, o mesmo garoto que nos ajudou lá fora com os cavalos.

O garoto respondeu com um "jawohl" e correu para o outro cômodo que provavelmente era a cozinha. Novamente o dono da estalegem nos pega pela mão e nos guia até o segundo andar.

- Vocês ficarão com os melhores quartos daqui, de com vista para nosso vilarejo e para a estrada do sul. Fiquem à vontade, em breve o banquete estará pronto.

Chegando à porta de um dos quartos ele nos deu a chave e apontou a porta ao lado como sendo o quarto de Frieda, tudo de forma bem ágil e apressada.

- Vou pedir para prepararem um banho de ervas para vocês também. - disse já se afastando e indo em direção à escada.

- Muito obrigada! Vocês já nos aguardavam? - indagou Frieda da porta de seu quarto.

- Sim e queremos que não pensem mal de nós... - falou já bem afastado de nós chegando novamente ao primeiro andar.

- Muito estranho... - falei baixo.

- Também acho, mas já que fomos bem atendidos, porque não aproveitar?  Um bom banho cairia bem antes de dormir. - disse Frieda entrando em seu quarto e fechando a porta.

A muito tempo que nós, teutônicos, não realizávamos patrulhas ao sul de Rothemburgo, provavelmente seja por isso que éramos aguardados e por isso que eles nos tratou bem. Meu grão mestre não se preocupava com o sul já que a Ordem dos Hospitalários tinham muita influência por aqui, ainda que estes domínios pertençam aos teutônicos.

Tomamos nossos banhos, e descemos para o jantar. Praticamente toda a população do vilarejo participou do preparo da comida. Comemos os melhores pratos e temperos da região. Todos evitavam conversar conosco, Parzner sempre solícito enchia mais e mais nossos pratos. Para beber pedimos sucos de frutas, pois evitamos bebidas alcoolicas em viagem. Isso fez com que Parzner se espantasse mas por discrição não comentou nada, e de pronto nos serviu os melhores sucos de amora da região. Fartos, subimos para nossos quartos para tentar descançar para o dia que viria.

Pelas tantas da noite acordei e fui até a sacada que ficava na varanda no final do corredor dos quartos dos segundo andar. Para minha surpresa Frieda estava lá observando o céu e ao me ver não se espantou e me disse:

- Preocupado com a viagem?

- Vou ser franco com você porque desejo que haja franqueza entre nós. Sim, estou preocupado porque nunca escoltei donzelas em cruzadas. Mesmo que mulheres tenham feito parte de exercitos em cruzadas, elas tinham experiencia em combate e mesmo as que não tinham eram esposas dos templários e ficavam cuidando da logística na retaguarda.

- Deixa ver se entendi. Você duvida da minha capacidade de luta certo? Você mesmo não ouviu de Henrich que ele me treinou? Sou exímia no manejo do arco, e já que você lutou no norte, deve ter visto arqueiros mongóis em ação. Henrich viu e me ensinou como eles fazem. Não se preocupe com a minha segurança, se preocupe apenas em me guiar por estes caminhos, porque nunca me aventurei por estas bandas.

Engoli seco e proferi:

- Desculpe frau. Confiarei mais em suas habilidades daqui para frente. E estou apreensivo porque também vim pouco para o sul. Conheço o caminho mas tem muitos anos que não me aventurava por ele. Eu ainda era um aluno da ordem quando fui em Veneza.

- Dizem que a cidade é linda.

- Sim. Eu me encantei pelos canais que são como se fossem ruas. Nelas navegam barcos que ligam cada uma das construções de suas inúmeras ilhas. Por ser um centro comercial e cultural muito grande, todo o tipo de gente vive nela. Todas seduzidas pelas belezas e oportunidades. Praticamente qualquer produto pode ser encontrado em Veneza. O que também desperta a ganância de ladrões e foras da lei.

E você os teme?
 
-  Não. Pois apesar de haver foras da lei, a segurança é prioridade para os mercadores. Você faria negócios em uma cidade violenta? Além do mais Gênova é uma concorrente de peso para Veneza. É crucial que haja ordem na cidade. A sede de muitas ordens templárias é lá e as ordens zelam pela tranquilidade.

- Então os maiores perigos que podemos encontrar seria na viagem até lá e não na cidade. Quantos dias você acha que levaremos para chegar?

- De 12 a 19 dias dependendo da saúde dos cavalos e de nossa carga. Como estamos levando o básico e nossos cavalos estão com boa saúde e descançando a noite, creio que 14 dias seria um bom número. - respondi.

- Duas semanas. Bem, vamos descançar porque a viagem será longa... - afirmou Frieda se dirigindo para seu quarto.

- De acordo. - concordei indo logo atrás dela para o meu quarto.

- Outra coisa herr Elmer. Desculpe se fui rude em algum momento. Foquei minha raiva em meu pai e quando estou com raiva lanço flechas para todos os lados. - disse Frieda de trás da porta entreaberta que cobria parte do seu corpo.

- Sem problema, já enfrentei lâminas bem afiadas. Boa noite. - disse já chegando à minha porta.

Com um sorriso Frieda fechou a porta.

Entrei em meu quarto e tentei dormir para descançar o corpo para a continuação da viagem.


A seguir: A viagem continua.

Trilha sonora do episódio:


 

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